Violência gratuita



A violência nas escolas ou os fenómenos de bulling entre jovens registam já cifras negras muito preocupantes. Neste caso nada faltou: violência física, filmagem da cena, colocação do filme nas redes sociais e gente a assistir, com prazer, rindo ao ritmo dos pontapés desferidos. E ninguém foi capaz ou quis socorrer a jovem vítima da agressão selvática. A crueldade deste acto magoa-nos a todos nós. Aquela jovem foi ferida no corpo e na sua dignidade, enquanto pessoa humana. Esta violência que foi vista na tela é real.

O homem desde sempre exerceu e foi alvo de violência, bastando recordar os episódios de agressões de que a Bíblia nos fala e de que Jesus foi vítima, os enforcamentos em praça pública, os homens que lutavam até à morte nos coliseus para satisfação da assistência, a Santa Inquisição que queimou gente inocente e as atrocidades praticadas no nazismo.

Não quero saber se a violência se explica por uma inata predisposição do homem para tal, se pela personalidade do meio em que se insere, ou se pela densidade demográfica, acompanhada pelas desigualdades fomentadas pelo desenvolvimento económico, social e cultural. O que sei é que esta estória tem outra verdade. A violência tem outra natureza e é praticada entre membros da mesma comunidade.

Tudo está a falhar: a sociedade, a família, a escola, o Estado, a justiça e as redes sociais. A sociedade tem vindo a sofrer significativas transformações: a família, núcleo fundamental da educação, já não é a mesma, tendo perdido autoridade e vontade de dialogar, de educar e de acompanhar o dia-a-dia do filho, delegando tudo na escola; a escola perdeu prestígio, disciplina e os alunos não reconhecem autoridade ao professor; o Estado não dá o exemplo, é incompetente, não cumpre com as suas obrigações, pede auxílio a gente de fora, para governar a casa; os partidos e seus líderes não discutem o País, ofendem-se e enganam-se uns aos outros, como tem acontecido nesta pobre campanha eleitoral; a justiça não tem resposta, em tempo útil, para resolver estes casos. No meio de tudo isto, a verdade é que a violência continua a existir e a registar-se cada vez mais na população jovem… Urge transmitir aos jovens uma cultura sólida, no campo dos direitos humanos e do respeito pelo outro, seu semelhante, e da solidariedade e salvaguarda da dignidade da pessoa humana. As famílias têm de passar a estar mais atentas aos seus jovens, a acompanhar os seus problemas, a dialogar com eles, a acompanhar o seu dia--a-dia. Mas também é necessário baixar a idade penal dos 16 para os 14 anos e as redes sociais que estão em roda livre têm de ser eficazmente fiscalizadas e controladas. Só assim a sociedade pode observar um decréscimo da violência.

Os actos de violência gratuita cometidos nas imediações de uma escola pública, em que duas alunas seviciaram, com requintes de malvadez e de crueldade, uma outra colega, espelham o país em que vivemos e a sociedade que estamos a construir.

Por:Rui Rangel, juiz desembargador

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